domingo, 28 de fevereiro de 2016

Sobre o clima no país- fim à rica indústria de manobras protelatórias

RICOS, QUE SE JULGAVAM ACIMA DA LEI, TERÃO MAIS DIFICULDADE DE FICAR FORA DA CADEIA
Ao ser preso com sua mulher, Mônica Moura, acusados de receber ilegalmente US$ 7,5 milhões no exterior, João Santana, marqueteiro de Lula e Dilma, disse que “o país vive um clima de perseguição”, referindo-se aos efeitos da Lava-Jato do juiz Sérgio Moro e fazendo supor uma operação que persegue sem investigar e considera todos culpados até prova em contrário. É o que dizem muitos dos que já foram apanhados. Será mesmo assim? Realmente, se prende muito mais hoje em certos segmentos sociais do que anos atrás, e isso porque as instituições melhoraram seu desempenho: a polícia, o Ministério Público e a Justiça estão mais independentes e aperfeiçoaram seus instrumentos de combate ao crime e à impunidade, atingindo personagens da elite política e empresarial que se julgavam acima da lei.
E esse número de “perseguidos” deve aumentar porque acaba de surgir outra novidade para tirar o sono dos réus de colarinho branco que já se consideravam livres das grades. A decisão do Supremo Tribunal Federal autorizando a prisão de condenados a partir da sentença de segunda instância pôs fim à rica indústria de manobras protelatórias, como as do ex-senador Luiz Estevão. Condenado em 2006 a 30 anos e oito meses de prisão por peculato, corrupção ativa, estelionato, formação de quadrilha e uso de documento falso, ele só cumpriu três anos e seis meses. Está em regime domiciliar graças a 34 recursos judiciais e, claro, financeiros. Agora, o Ministério Público pediu ao STF sua prisão imediata e a do empresário Fábio Monteiro de Barros Filho, seu companheiro de desvios. Será isso perseguição? E o que dizer do pedido da PGR ao STF para apurar a movimentação de R$ 5,7 milhões do presidente do Senado, Renan Calheiros, por lavagem de dinheiro e peculato? A imprensa está cheia de histórias, inclusive de empresas. A Odebrecht, por exemplo, talvez tenha hoje mais processos do que obras a realizar. Aliás, ela foi citada por Mônica como tendo dado US$ 3 milhões à firma do casal e, segundo a revista “Época”, documentos apreendidos pela polícia revelam que a empresa pagou R$ 4 milhões ao marqueteiro na campanha de reeleição de Dilma. O dinheiro seria oriundo de contrato da construtora com a Petrobras.
As investigações sobre a dupla continuam, mas, a julgar pelas conexões, contradições e mistérios não desfeitos nos primeiros depoimentos, em que Santana não soube dizer nem quem era o generoso doador dos seus US$ 7,5 milhões, o casal está mais enrolado do que o nome do lobista que depositou US$ 4,5 milhões na conta do marqueteiro na Suíça: Zwi Skornicki. Pelo que devem de explicações à Receita e à Justiça, Mônica e João só não poderão alegar que foram vítimas de “perseguição”, até porque, mascando (chiclete?) e com seu riso desafiador, Mônica não parecia uma perseguida.
A decisão do STF autorizando a prisão de condenados a partir da sentença de segunda instância pôs fim à rica indústria de manobras protelatórias
OGLOBO.GLOBO.COM|POR ZUENIR VENTURA

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