Ao batizar a 23ª fase da Operação Lava Jato como Acarajé, a Polícia Federal se inspirou nas conversas entre os executivos da Odebrecht Hilberto Mascarenhas e Roberto Prisco Ramos e a funcionária da empreiteira Maria Lúcia Guimarães Tavares, nas quais se discutia a entrega de dinheiro vivo, que o trio chamava de "acarajé". Segundo relatório da PF, "Maria Lúcia era acionada por Hilberto Mascarenhas para que disponibilizasse, de forma ainda não esclarecida, a entrega de valores em espécie a Roberto Ramos (os acarajés)".
Assim como Hilberto Mascarenhas, seu chefe, a funcionária da Odebrecht foi presa na deflagração da operação da PF, na terça-feira. Encarregada de gerenciar a planilha em que se detalhavam pagamentos a "Feira", identificado pela PF como João Santana, e JD, referência a José Dirceu, Maria Lúcia Tavares se saiu com uma explicação nada convincente para as menções a acarajés nos e-mails trocados entre Mascarenhas e Ramos, com cópia para ela: de que se tratava, literalmente, da iguaria baiana.
Em uma das mensagens interceptadas pela PF, Ramos pergunta a Mascarenhas, a quem costumava chamar de Tio Bel: "Será que dava para eu trazer uns 50 acarajés dos 500 que tenho com você? Ou posso comprar aqui mesmo, no Rio? Tem alguma bahiana de confiança aqui?". Na versão de Maria Lúcia Tavares, gentilmente contestada pela PF como "pouco verossímil", Mascarenhas pedia à subordinada que providenciasse a entrega de porções de acarajé a Ramos "que as baianas em Salvador vendem (em) pequenas porções para aperitivos, em caixa", segundo depoimento à PF. "Então cabia à declarante providenciar essas entregas a pedido de Hilberto, no local onde ele indicasse."
A explicação literal da funcionária para o termo ganha ares ainda mais surreais em função de um dos locais para a entrega da iguaria baiana: a sede da Odebrecht Óleo e Gás no Rio de Janeiro. Apesar dos 1.631 km que separam as capitais baiana e fluminense, Maria Lúcia informa a Ramos que os acarajés "chegaram quentinhos".
Por mais que a funcionária da Odebrecht tenha se esforçado para explicar as transações entre os executivos da empreiteira, as conclusões do relatório da PF afastam a alegação dela de que era "meramente encarregada de relatórios financeiros".
Para a Polícia Federal, "os documentos analisados não só demonstram que Maria Lúcia em algum grau gerenciava a contabilidade paralela da Odebrecht, destinada ao pagamento de vantagens indevidas", mas também que tinha "pleno conhecimento de que o codinome Feira" se referia a João Santana. Em uma agenda dela, a PF encontrou, associados à anotação "Feira" os nomes de Mônica Moura, de seu filho Daniel Requião e de João Santana, além de telefones deles (uma linha internacional, de Nova York) e o endereço de um flat em São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário