Guga Noblat
“Na Câmara, apreensão. No Senado, luto!”A frase do deputado da Bahia José Carlos Aleluia (DEM) resume à perfeição o clima do Congresso Nacional um dia depois da prisão de Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado.
Os senadores estão de coração partido. Delcídio era uma figura querida e com largo trânsito entre parlamentares de todos os partidos. A tendência inicial dos seus colegas no Senado era a de tirá-lo da carceragem da Polícia Federal, em Brasília, onde se encontra por ter tentado atrapalhar as investigações da operação Lava-Jato.
A maioria dos senadores só se sentiu à vontade para referendar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de mantê-lo preso porque o PT, em nota oficial, condenou o comportamento de Delcídio, “jogando-o aos leões”, segundo o senador do Mato Grosso José Medeiros (PPS).
Tem parlamentar que deixou de atender telefonemas com medo de estar sendo grampeado, como Delcídio foi. E tem parlamentar com medo de admitir que simplesmente está com medo. Ou melhor: até admite. Mas sob a condição de seu nome não ser citado.
A sensação geral no Congresso é de que o governo perdeu qualquer resquício de controle que ainda poderia exercer sobre a Justiça ou a Polícia. E o próprio Congresso, acuado pela opinião publica, carece de energia para reagir em defesa dos seus.
Para Fernando Marroni, deputado petista do Rio Grande do Sul, é como se os políticos sentissem que, agora, qualquer um metido em corrupção pode ser decapitado. E tem muita gente no Congresso metida em corrupção. “O Senado inaugurou a guilhotina que agora está à espera das cabeças que vão rolar”, aduz Marroni.
Nunca antes na história deste país um senador havia sido preso no exercício do mandato. O “Caso Delcídio” abre um precedente que desata receios e provoca pânico entre os políticos. Assombra.
Um dos poucos que não conseguia esconder a felicidade, ontem, era Ronaldo Caiado (DEM), senador de Goiás, aspirante a candidato a presidente em 2018. Em seu gabinete, ele passou o dia ocupado em conspirar para enfraquecer mais o governo depois da prisão de Delcídio.
Na avaliação de Caiado, uma vez abandonado pelo PT, sem apoio do governo e com uma condenação certa a muitos anos de cadeia, só restaria a Delcídio contra-atacar apelando para a delação premiada. Em troca de uma pena menor, ele passaria à condição de colaborador da Justiça.
Se Delcídio falar, acredita Caiado, a República irá ruir. “Quando um rato está acuado e vão matar o rato, só resta a ele se virar e atacar de volta”, comparou o deputado Mandetta (DEM-RS) depois de conversar com Caiado. De resto, a prisão de Delcídio virou combustível para impulsionar manobras em torno do impeachment da presidente Dilma. Elas haviam cessado. Ou esfriado.
Numa reunião da executiva do PSDB, ainda pela manhã, os senadores Aécio Neves, Alberto Goldman e Aloísio Nunes, além de outras cabeças coroadas do partido, discutiram a dificuldade do governo em aprovar todas as medidas do ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy, da Fazenda. Tal dificuldade só tende a aumentar com a saída de cena de Delcídio, especialista em conflitos, e com um Congresso poli traumatizado.
Era Delcídio quem negociava na Câmara e no Senado a aprovação de corte de gastos e o aumento da arrecadação para cobrir o rombo de mais de 100 bilhões de reais previstos no orçamento do ano que vem. Se Dilma começar 2016 no vermelho, poderá ser enquadrada na Lei de Responsabilidade Fiscal. Nada melhor para justificar o impeachment.
Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, voltou a acenar com a possibilidade de aceitar o pedido de impeachment de Dilma. Disse que decidirá a respeito na próxima segunda-feira. Na terça, o Conselho de Ética da Câmara votará o relatório que pede a abertura de processo para cassar o mandato de Eduardo por quebra de decoro.
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