Dias depois, entrevistada por Hebe Camargo na TV, Hebe lhe perguntou quando iriam escrever sua biografia. Dercy respondeu: "Sei lá! Convidei o tal do Ruy Castro, mas ele só gosta de morto!".
Há anos me bato pela ideia de que é arriscado biografar uma pessoa viva. E por um motivo simples: sua história ainda não terminou. A própria Dercy, no Carnaval de 1991, coroara sua inacreditável carreira desfilando pela Viradouro na Marquês de Sapucaí, aos 84 anos (na verdade, 86), numa alegoria a dez metros de altura. E com os seios de fora –que a avenida, estupefata, aplaudiu. Quem garantia que não iria ainda se superar, pulando de asa delta da pedra da Gávea ou se casando com d. Helder Câmara?
O biografado vivo não é confiável. Às vezes, depois de uma vida unanimemente admirada e narrada numa grande biografia, ele comete algo discutível ou polêmico –e, com isso, mela o livro. Aconteceu com "Woody Allen - Uma Biografia", de 1991, por Eric Lax, que levou 19 anos trabalhando nela e com acesso direto ao personagem. A crítica a saudou como a biografia definitiva de Woody.
Um ano depois, houve o escândalo envolvendo-o com sua enteada Soon-Yi. O episódio maculou o livro, não por não ter sido descrito, mas pelo Woody anterior a ele e que Lax não foi capaz de perceber.
Lula já melou as várias biografias que lhe escreveram. Mas a que irá valer só será escrita no futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário