terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A peste


Tempos ingênuos aqueles da "Porém, cada crime ou bando solta brotos novos sem parar. Pode ser que, ainda que Dilma evaporasse e houvesse alternativa política (ora não há), um novo governo fosse assolado pela política que apodrece em ritmo de epidemia de peste.
A prisão de José Carlos Bumlai abre um túnel do tempo para muitas perdições no espaço. Mais que amigo de Lula, ele liga bancos à Petrobras, o petrolão de hoje ao mensalão de ontem, tudo amarrado com o fio do PT, que, hoje ou ontem, é Lula.
Caso valha quanto pesa e fale, Bumlai pode até tirar das masmorras Marcos Valério, gerente do mensalão. Quem sabe agora o ex-publicitário tente delação premiada, se não está ameaçado de morte. Faz mais de dez anos, Bumlai e Valério arrecadavam dinheiros para o PT.
Além de revelar possíveis negociatas, o caso do banqueiro André Estevesserve para solapar frentes empresariais de ação política (ou similares). Empresários vão em pencas para a cadeia, empresas graúdas se sujaram na compra de medidas provisórias ou na corrupção do "tribunal de impostos" da Receita Federal, por exemplo.
Ninguém pode, pois, se arriscar a ser amigo de ninguém. O empresário com quem hoje se discute o "interesse nacional" pode ser delator amanhã –talvez o seu delator. O seu sócio no oligopólio "x" montado pelo governo com ajuda do BNDES pode ser o próximo pária da manhã dos camburões da PF.
A delação premiada da Andrade Gutierrez deve começar por explodir pedaços do PMDB, o do Rio inclusive, que ora tem peso na Câmara. Os executivos da segunda maior empreiteira vão soltar a lama de Belo Monte, Angra 3, Copa, petroquímica da Petrobras e Norte-Sul. Pode sobrar para o PSDB.
Delcídio do Amaral é ainda incógnita, mas pode juntar Lula e parte do PMDB no mesmo samburá. Sobre a delação do condenado Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, um procurador diz que será "calamitosa".
Enfim, nesta semana Eduardo Cunha ameaça oferecer a cabeça de Dilma em troca da sua.
O governo está com os gastos travados por não ter, na prática, reaprovado o Orçamento mutante de 2015. Não tem Orçamento para 2016. O Congresso atolado na lama no máximo vota o mínimo para manter o país respirando. A isso se reduz o governo, que vai chegar ao final do ano sem nem aparecer com suas prometidas "reformas estruturais", as quais Dilma quer reduzir a fiasco e irrelevância.
Em vez disso, o governo vai soltar um novo pacote fiscal, com o que pretende dizer ao "mercado" que não haverá deficit também em 2016. Mas as medidas que cozinha (Cide etc.) já estão na conta do "mercado". Mesmo com esses remendos, a previsão é de deficit e dívida crescendo sem limite até 2018.
Não há governo, alternativa de oposição, movimento social; elites empresariais e políticas ainda vão se dissolver na lama; há recessão encomendada até 2017. Por ora, não há saída.
Por VINICIUS TORRES FREIRE

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