terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Chuvas e furacões



É claro que, a julgar pelos últimos meses e pelos dados sobre a situação econômica do Brasil, mesmo para os otimistas, como eu, enfrentaremos muitas tempestades no próximo ano.
As consequências mais visíveis aparecem na saúde, que vive uma gravíssima situação, gerada pela completa falta de infraestrutura de apoio e pelas paralizações de servidores, muitos sem pagamento de salários há mais de três meses. Além disso, com o significativo aumento das taxas de desemprego, mais pessoas, e numa dimensão inesperada, são obrigadas a recorrer aos serviços públicos, principalmente na educação e na saúde.
Os rebaixamentos impostos pelas agências internacionais também dificultarão bastante o trabalho da equipe econômica.
As chuvas que se avizinham trazem um fato positivo, se nos inspirarmos na Hazel Grace, a maravilhosa personagem do filme “A culpa é das estrelas” pois, como ela diz, “se quisermos ter o arco-íris, é preciso aguentar a chuva”.
Para vermos o arco-íris, entendo que precisamos agora de menos disputas e mais convergência em torno de um único tema: o futuro de nosso Brasil.
Alguns fatos podem ajudar a recuperação. O primeiro deles é a pujança de nossa indústria, capaz de atender às necessidades e demandas de uma população de mais de 200 milhões e de assegurar maior inserção do país no fluxo de comércio internacional.
O segundo está nos agronegócios pois, afinal de contas, somos dos maiores produtores de alimentos do mundo, suficientes para o país e ainda garantindo vendas expressivas para o resto do mundo.
Um terceiro surge da abertura de novas perspectivas no ambiente latino americano, uma vez que o governo da Argentina irá fortalecer o Mercosul, desde que, naturalmente, ele passe a ser visto como um acordo econômico de fato, e não mais como um fórum de elogios mútuos, que deixa a impressão de que cada reunião serve apenas para marcar a próxima.
Por outro lado, torna-se imperioso qualificar os microempreendedores, dando-lhes ainda os meios de buscarem soluções no comércio exterior, uma das maiores dificuldades que enfrentam.
É sempre bom lembrar que em países como a Itália e a Espanha, as micro e pequenas empresas, mesmo na crise econômica, têm uma presença muito mais expressiva no PIB do que as nossas, que são mais de 90% do total de empresas do país.
Nos tempos difíceis, devemos formar as pessoas que irão acabar com eles. É urgente e determinante para o nosso futuro que seja priorizada a formação de técnicos e engenheiros capazes de alavancar a competitividade de nossas empresas.
Na prática a questão é a seguinte: podemos simplesmente desistir e entregar o país a quem se interesse em comprá-lo, ou ajudar a recuperá-lo com critério é competência.
Ao governo cabe abandonar a teimosia doentia de achar que a culpa é do mundo e que as políticas adotadas até agora são as melhores da nossa história. Deve atuar mais fortemente, com habilidade e competência, na proposição e execução de políticas públicas transformadoras.
A nós cabe, além de fiscalizar e opinar, trabalhar, nos limites de nossa capacidade.
Ao setor produtivo, participar mais proativamente do processo de recuperação. Afinal de contas, mesmo com as crises presentes, ainda somos a sétima economia do mundo.
Comecei com a chuva e termino com o vento. A familia Schürmann, que já deu várias voltas ao mundo e enfrentou terríveis tempestades e furacões, cunhou um lema que vale muito para a construção do nosso futuro: “Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do seu barco para chegar onde quer”.
Vamos em frente e feliz 2016 para todos nós.Paulo Alcantara Gomes
Paulo Alcantara Gomesex-Reitor da UFRJ e ex-Presidente do SEBRAE-RJ, e atualmente Presidente da Rede de Tecnologia, escreve às terças-feiras

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