sábado, 26 de dezembro de 2015

Insólito mundo de Dilma na visita ao Nordeste

Quase fim de dezembro de 2015. Sigo, a uma distância crítica, razoavelmente segura, a passagem da presidente Dilma Rousseff pelo Nordeste. Ela chega para apresentar, entre a Bahia e Pernambuco, o seu novo bailado da coreografia pós-Joaquim Levy, ensaiado em Brasília na escolinha do "galego Jaques Wagner", segundo define uma amiga jornalista que sabe das coisas, ao explicar alguns passos da mandatária – nesta sua nova viagem em busca do tempo perdido.
"Ninguém volta ao que acabou”, diz o samba de Chico Buarque, mas não custa tentar... Propagam assessores e áulicos do Palácio do Planalto, alguns deles tentando esconder a indisfarçável chapa branca: "a presidente viaja em agenda positiva”, na tentativa de melhorar preocupantes índices de desconfiança e rejeição, a ela e ao seu instável e desconexo governo, na região de sua maior mina de votos: área crucial, portanto, na estratégia para a pretendida manutenção (apesar de tudo) do projeto de poder do PT e seus aliados.
"Tudo demorando em ser tão ruim". Ressoam os versos do samba de Caetano e Gil.
Os principais indicadores econômicos, políticos, morais, de desenvolvimento humano e sociais despencam a cada novo anúncio de índices, das agências e órgãos de credibilidade nacionais ou internacionais, sem apresentar sinais de reação de melhoras para tão cedo. Principalmente quando se tem como perspectiva o ano novo que está chegando.
Vejam exemplos da Bahia, enquanto a presidente Dilma baila, ri, desacata alguns adversários, divide o palanque com outros (um deles o prefeito do DEM, ACM Neto, que flutua em popularidade nas pesquisas de opinião), para evitar vaias na festa de inauguração da estação do metrô no histórico bairro de Pirajá, e banca a valente em sua passagem.
A importante montadora da Ford, em Camaçari, acaba de mandar para a rua 2.000 trabalhadores ao extinguir o turno noturno da fábrica baiana, em razão da devastadora queda de mercado para os carros que produz, na região metropolitana de Salvador. Amarga notícia de fim de ano, já se vê. Ainda mais quando se sabe que, até recentemente, a montadora de Camaçari era citada aos quatro ventos como modelo industrial a ser seguido em toda a América Latina: de modernidade, de dinamismo, de produtividade, de vendas...
Depois que a chinesa JAC Motors sepultou de vez o seu projeto de também construir uma montadora em Camaçari - anunciada no meio de muitas viagens, festas e propaganda, no governo petista de Jaques Wagner (agora na direção da Casa Civil), - não poderia haver pior notícia para a Bahia e para a região.
A presidente do Brasil e o ex - sindicalista governador da Bahia, Rui Costa, ambos do Partido dos Trabalhadores, montaram palanques festivos, esta semana, na capital e em Camaçari (como exigiam assessores governamentais, interessados da politica e sumidades da propaganda oficial da interminável obra do metrô e do programa Minha Casa Minha Vida).
Provavelmente, embriagados de orgulho e emoção pelo mote e refrão "Vovó, olha o Metrô!", (da insólita peça de marketing espalhada, a peso de ouro em tempo choroso de crise, pelos jornais, sites da Internet, blogs, emissoras de rádio e televisão), a mandataria e o governador desfilaram aparentemente alheios ao fato de graves reflexos econômicos e sociais em Camaçari, no estado e no país.
Sem uma palavra sequer sobre atitudes, providências ou mesmo de indignação – como seria justo esperar de governantes preocupados e responsáveis. Nem mesmo uma mensagem formal de conforto à nova leva de desempregados, que se sobrepõe, agora, ao desastre anterior da paralização das obras monumentais no Estaleiro do Paraguaçu, em Maragogipe (Recôncavo Baiano). Outro engodo administrativo, político e eleitoral levado a efeito no Nordeste. Este sob a bandeira despedaçada da Petrobras (orgulho nacional). Impossível esquecer o palanque da inauguração do estaleiro de Maragogipe, em cima do qual a presidente, governantes e políticos petistas e aliados (baianos e nacionais) festejavam com os donos e executivos de grandes empreiteiras. Vários deles apanhados em grossa prática de ilícitos criminais e corrupç&atil de;o, pela Operação Lava Jato (a exemplo de Marcelo Odebrecht e Ricardo Pessoa), que passaram o Natal na cadeia.
Depois, com aparente novo alento do respiradouro de oxigênio de emergência, ofertado na crise pelo Supremo do ministro Lewandowski, a presidente Dilma seguiu viagem para Pernambuco. Na beira do rio da minha aldeia ela foi continuar tentando vender outra custosa, interminável e agora, após a “batida” da Polícia Federal na Operação Vidas Secas (extensão da Lava Jato) mais que suspeita fantasia dos governos Lula-Dilma: o sucesso das obras de transposição das águas do Rio São Francisco.
Insólito mundo de Dilma e seu governo, evidenciado na rápida visita ao Nordeste. A presidente cancelou a parada prevista para o Rio de Janeiro, (assustada com o tamanho do caos na saúde e o vulcão instalado na vizinhança da sede da Petrobras) e tratou de retornar a Brasília. Agora, entrincheirada no Palácio do Planalto, sob a guarda de Wagner e Lewandowski, espera 2016 chegar. A conferir.Vitor Hugo Soares
Vitor Hugo SoaresÉ jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitor_soares1@ terra.com.br
Dilma Rousseff na Casa de Cultura do Pelourinho, Salvador, BA  (Foto: Ichiro Guerra)

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