29/11/2015 - 01h10
É com profundo sofrimento que tenho que encaminhar essa questão, o Delcídio é um senador valoroso…espero que comprove inocência, e que as gravações não tenham o peso que estão demonstrando no momento. (Aloysio Nunes, PSDB-SP)
Os próximos passos do Itamaraty, tendo como pano de fundo a eleição de Macri, a provável derrota de Nicolás Maduro nas eleições parlamentares de 6 de dezembro, e mais uma Cúpula do Mercosul que se avizinha. O texto já estava pronto, eu só não contava com a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do Governo no Senado, sob a acusação de obstruir as investigações da Operação Lava Jato.
Puta que o pariu, né! Aí eu disse, olha, você me dá um tempo que eu vou olhar isso, mas ó, André, pô, o advogado do Nestor é um cara sério, um cara que tem história, e a família do Nestor eu conheço desde... O Bernardo, por exemplo, conheço desde pequeno, e foi assim.
André Esteves, sócio do banco BTG Pactual, também recebeu ordem de prisão, porém nada causou mais repulsa do que o áudio dando publicidade a uma reunião entre o próprio Delcídio, Diogo Ferreira, Edson Ribeiro e Bernardo Cerveró, este último responsável por secretamente gravar o encontro.
Agora, Edson e Bernardo, eu acho que nós temos que centrar fogo no STF, eu conversei com o Teori, conversei com o Toffoli, pedi pro Toffoli conversar com o Gilmar, o Michel conversou com o Gilmar também, porque o Michel tá muito preocupado com o Zelada, e eu vou conversar com o Gilmar também.
Durante a conversa, amplamente divulgada em toda a mídia, o senador, seu chefe de gabinete, o advogado do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, e o filho de seu cliente, tramam com a eloquência típica dos grandes bandidos. Chegam a elencar opções de fuga do país para Nestor, enquanto Delcídio fala em pressionar juízes do Supremo, e ainda acerta uma mesada de 50 mil reais para a família do ex-diretor em troca de seu silêncio.
Por que, o Gilmar, ele oscila muito, uma hora ele tá bem, outra hora ele tá ruim…
Pois, na mesma quarta, mal havia chegado à Polícia Federal, seus companheiros de plenário já vislumbravam a saia justa, uma vez que a Constituição atribui ao Senado a possibilidade de relaxar prisões de membros do Congresso Nacional, caso estes não tenham sido presos em flagrante de crime inafiançável.
Mas como, se o STF foi unânime? De que jeito, se Rui Falcão atirou-o aos leões, em nota muito provavelmente endossada pelo próprio Lula? Isso tudo, sem falar na multidão que ficou o dia inteiro atenta ao que acontecia, sedenta por uma votação tão aberta quanto acachapante.
Não, mas a saída melhor pra ele é pelo Paraguai…
É verdade, o PT não me permite ignorar sua existência, mas chegou a hora de também olharmos para além do famigerado Partido dos Trabalhadores. Digo, não dá mais para ignorar uma turma que, se não pode ser considerada a única culpada pelo debacle moral e institucional dos últimos anos, e de fato não pode, certamente tem grande parcela de responsabilidade.
Ou, pergunto, a natureza viscosa, o cinismo envergonhado, a frouxidão, e, como não, a covardia do PSDB, não foram decisivos para que até hoje Lula e sua turma nadassem de braçada?
Meu sentimento não é exatamente de decepção, aliás, não é nem um pouco. Para que fosse, eu precisaria ter engolido a pílula do discurso regurgitado por Luiz Inácio sobre a falsa dicotomia, aquela que pinta os tucanos como adversários figadais do petismo. É verdade, as últimas eleições foram decididas entres os dois partidos, mas sempre por motivos circunstanciais, nunca fundamentalmente ideológicos.
E tá com o Fachin? Eu tô precisando fazer uma visita pra ele lá hein!
Talvez o erro seja nosso, em esperar de Alckmins, Serras, Aloysios e Aécios, até mesmo de Fernandos, um discurso firme, sem medo do embate aberto. Deixando de lado a sordidez de quem assalta o país há mais de uma década, parece ser somente esta a grande diferença entre os governistas e a dita oposição.
Aí, por exemplo, no caso da Dilma, ele disse: A Dilma sabia de tudo de Pasadena, ela me cobrava diretamente, pá, pá, pá, fiz várias reuniões.
Ano passado meu voto foi para Aécio, e teria votado no Capiroto, se necessário fosse, mas, sem falar no desembaraço ao defender o legado de Fernando Henrique Cardoso, fiquei realmente satisfeito quando percebi um candidato disposto a enfrentar cada uma das mentiras recitadas por Dilma.
Pois, para mim já está claro, tudo não passou um momento fugaz.
Na verdade, o PSDB real é aquele do Quando o Lula da Silva sair/É o Zé que eu quero lá, a marchinha montada para a campanha de 2010, que inacreditavelmente citava o próprio algoz no refrão.
Ou então, se não quisermos ir muito longe, o de quarta-feira passada, quando Aloysio Nunes enalteceu Delcídio, chamando-o de “amigo” e “valoroso” sob o olhar cúmplice de Aécio Neves.
Nada poderia ter sido mais sintomático, a chapa que tentou a presidência meses atrás, o candidato e seu vice, fazendo cafuné no líder do governo petista, mesmo após tão acintoso golpe à democracia, enquanto ele já era rebatizado de “Delcídio Amoral” pelas redes sociais afora.
Quem sabe, ao contrário de Delcídio, os tucanos não sejam tão valorosos assim.
Mario Vitor Rodrigues
é escritor, apaixonado por gastronomia, futebol, séries e cinema. Já morou em Nova Iorque, Paris e, após uma temporada em Milão, está de volta ao Rio para finalizar seu próximo romance pela Nova Fronteira. Sempre no twitter @mvitorodrigues