Irregularidades e denúncias de fraudes nos processos de licitação da Ferrovia Norte-Sul (Maranhão-Brasília) têm marcado a obra ao longo dos anos. Em maio de 1987, reportagem publicada pela “Folha de S. Paulo” denunciou um esquema de corrupção na concorrência para a construção dos 18 lotes da ferrovia, orçados em US$ 2,5 bilhões. Por meio de um anúncio codificado publicado nos classificados do jornal, a reportagem antecipou em cinco dias o resultado da disputa.
As 18 empreiteiras que venceram a licitação — parte hoje citada na Operação Lava-Jato — tinham combinado preços e definido quais lotes cada uma assumiria, conforme apontou o jornal. À época, o Ministério dos Transportes era comandado por José Reinaldo Tavares, e a ferrovia era uma das obras mais caras do governo do então presidente José Sarney.
Foram envolvidas no escândalo as empreiteiras Norberto Odebrecht; Queiroz Galvão; Mendes Jr; CR Almeida; Serveng; Egit; Cowan; Ceesa; CBPO; Camargo Corrêa; Andrade Gutierrez; Constran; Sultepa; Construtora Brasil; Alcino Vieira; Tratex; Paranapanema e Ferreira Guedes.O inquérito policial que apurou a denúncia acabou arquivado um ano depois da denúncia. Os responsáveis pelas irregularidades ocorridas na licitação não foram punidos.
Os 18 lotes somavam 1.570 quilômetros entre Imperatriz, no Maranhão, e Luziânia, em Goiás. Para colocar o esquema de corrupção em prática, a Valec — subsidiária da então estatal Vale do Rio Doce — foi vinculada ao Ministério dos Transportes para promover a concorrência e a supervisão da construção.
A reportagem, de autoria do jornalista Jânio de Freitas, ainda apontou que o valor orçado para a ferrovia pelo governo era tão alto e acima do de mercado que as empreiteiras conseguiram reduzir em 10% a quantia nas propostas. O conjunto dos lotes foi orçado pela Valec e o Ministério dos Transportes em US$ 2,5 bilhões.
O empate nos descontos, de acordo com a reportagem, mostrou que houve não só a divisão prévia da obra entre as empresas, mas também o envolvimento de integrantes do governo no esquema de corrupção, já que o desempate e a definição dos vencedores foram feitos pela Valec e pelo Ministério dos Transportes, atribuindo pontos a cada empreiteira. A concorrência terminou anulada.
por O Globo- / Atualizado
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