domingo, 31 de janeiro de 2016

"O que fazer",


O governo Dilma Rousseff (PT) demonstrou na última semana que compreende mal a natureza e a dimensão da crise econômica. Uma das piores recessões da República também não parece suscitar sentimentos de urgência no governo.
A presidente e seus principais ministros discursaram para representantes da sociedade, convidados a participar do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, apelidado Conselhão. Às vésperas da retomada dos trabalhos parlamentares, a ocasião oferecia a oportunidade de um discurso de reestreia do governo.
Mas a presidente não apresentou um plano adequado nem mesmo a tempos normais, ainda menos para os dias que exigem um programa de reconstrução urgente.
Da exposição resultou apenas mais um plano auto-enganoso, de expansão do crédito bancário em dezenas de bilhões de reais, como tantos jogados ao vento em seu primeiro mandato –quando semeou-se a enrascada de hoje.
Sob os cinco primeiros anos de Dilma Rousseff, o crescimento da renda per capita nacional foi nulo. Em 2015, a economia encolheu não menos que 3,5%. Para este ano, as projeções indicam baixa de 3%.
A taxa de desemprego subiu de 7%, ao final de 2014, para perto de 10% em dezembro e, estima-se, deve chegar aos 13% nos próximos meses. A renda do trabalhador começou a cair. O total de empréstimos recuou quase 4% em 2015.
O investimento em expansão da capacidade produtiva recua faz dez trimestres, desde a metade de 2013. O nível de confiança de empresários e consumidores está nas mínimas históricas.
Não se está a descrever um mero ciclo de retração, experimentado periodicamente por qualquer economia de mercado. Trata-se de um momento em que a capacidade de enxergar o futuro se acha bloqueada pelo descrédito e pela fragilidade política do Planalto.
Chegou-se a tal situação por uma sucessão obstinada de erros cometidos pela presidente, materializados agora em um colapso orçamentário de proporções inéditas.
Incapaz de restringir suas despesas aos limites de uma arrecadação declinante, o governo não tem como deter o agigantamento da dívida pública, já perto do patamar de 70% da renda do país e sem sinal de que parará por aí.
Dessa perspectiva resulta a incerteza que paralisa indústria e comércio, que alimenta a alta do dólar, da inflação e dos juros. Sem interromper esse processo, Dilma Rousseff não conseguirá fazer política econômica ou de espécie alguma.
É imperativo, portanto, que o governo conceda a derrota de sua estratégia original, abandone a insistência farsesca nos pacotes de crédito e dê consequências sérias ao discurso até agora propagandístico que transpareceu no Conselhão.
A esperança está em que a presidente articule um programa coerente com o qual possa convocar o apoio do Congresso e de setores e quadros relevantes da sociedade.
Há o que oferecer de imediato para reanimar os espíritos –colocar em prática o plano de concessões de obras e serviços públicos para a iniciativa privada.
Não haverá o fundamental engajamento do empresariado enquanto tais projetos estiverem impregnados dos cacoetes estatistas e outras teimosias da presidente.
Mas, acima de tudo, não haverá ambiente para empreendimentos de nenhuma espécie caso não se dê conta do mínimo essencial das reformas do gasto público.
A primeira tarefa é conter, ainda que em caráter emergencial, a expansão das despesas obrigatórias –com pessoal, aposentadorias, benefícios trabalhistas e assistenciais, entre outros– que consomem quase 90% da receita disponível da União.
Para tanto, há que se enfrentar com coragem uma compulsão dos formuladores de políticas públicas no país: a destinação de parcelas fixas da arrecadação a determinados programas e setores, como saúde, educação e uma miríade de exemplos menos importantes.
Tal prática, associada ao costume arraigado de promover a correção automática de salários e benefícios pela inflação passada, impede que o Executivo ajuste suas prioridades e adapte o Orçamento a situações adversas.
Um paliativo tem sido, desde os anos 1990, renovar um dispositivo transitório da Constituição que permite o uso livre de uma fatia das receitas. Esse mecanismo poderia ser ampliado, associado a um teto para o gasto total do governo e até estendido a Estados e prefeituras.
É preciso também encaminhar uma proposta palpável de reforma da Previdência, até aqui só ensaiada em falas genéricas –com idade mínima para a aposentadoria e revisão da generosidade excessiva das regras das pensões por morte.
Ao proporcionar um horizonte de estabilidade das despesas, tal programa tornaria aceitável algum aumento de tributos de modo a acelerar o acerto das contas públicas. Pouco mais adiante, há a reforma das relações trabalhistas e a desburocratização do ambiente de negócios.
Propõe-se, enfim, uma agenda que promova uma reviravolta das expectativas econômicas e prepare o crescimento econômico em bases mais duradouras –um projeto que demandará um trabalho de enfrentamento de resistências ideológicas e corporativas.
Ou bem se apoie a mudança ambiciosa ou se assuma a responsabilidade do fracasso que vai derivar da passividade ou da oposição meramente destrutiva. Isto é, mais uma década perdida para o Brasil.editorial da Folha de São Paulo

"A lâmina do STF e os réus da Lava Jato",


Má notícia para quem torce contra a Lava Jato. A faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas do Rio concluiu uma pesquisa sobre o desempenho do Ministério Público em suas causas junto ao Supremo Tribunal Federal e concluiu:
"Nos processos da Operação Lava Jato, que tanta atenção têm recebido recentemente, o Supremo dificilmente reverteria uma decisão desfavorável aos réus emitida pelo TRF-4. Em 2013, as chances de isso ocorrer eram de 1%".
Essa é a taxa de reversão pelo STF de decisões vindas do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que cobre Curitiba, em processos abertos pelo MP. Quem conhece o STF arrisca dizer que, de 2013 até hoje, essas chances encolheram.
Nunca se deve esquecer de que, em setembro, a ministra Carmen Lúcia assume a presidência da corte.
Assinada pelos professores Joaquim Falcão, Alexandre de Moraes e Ivar Hartmann, a pesquisa da FGV levou um ano para ser concluída. Isolou 40,6 mil processos originados pelo Ministério Público Federal e pelos estaduais que tramitaram entre 1988 e 2013, fechando o foco no desfecho das ações.
A pesquisa mostra um Ministério Público mais atuante, com taxas de sucesso superiores à da média das outras partes. O campeão é o MP de Santa Catarina.
Ganha em 38% dos casos e perde apenas em 1,8%. Nos grandes números, a lanterna ficou com o MP do Maranhão, com 4,5% de sucessos e 12,7% de derrotas. (Essas percentagens não somam 100% porque se referem a universos diferentes.)
*UM JABUTI À SOLTA
Realizou-se na manhã de terça (26) uma reunião na Casa Civil. Diretores da Agência Nacional de Saúde Suplementar receberam ordens para retomar as análises e estudos no sentido de liberar os reajustes dos planos de saúde individuais.
Se essa velha aspiração de amigos do palácio for em frente, acertará o bolso de 10 milhões de pessoas.
Fazer isso numa hora em que há gente perdendo o emprego e o plano de saúde da empresa é, no mínimo, uma covardia.
VALE TUDO
Na busca de uma blindagem que a proteja da deposição, a doutora Dilma liberou sua tropa para atacar a área cultural do governo, que de certa maneira era respeitada.
O PERIGO DA ORLA
Apartamento de político em lugar visível, sobretudo quando fica de frente para o mar, tem mau-olhado. Talvez Lula não soubesse disso quando se enamorou do tríplex em Guarujá, onde achou boa ideia instalar um elevador interno.
Juscelino Kubitschek comeu o pão que o Tinhoso amassou porque comprou um apartamento na avenida Vieira Souto.
Carlos Lacerda, por muito menos, pois construiu um novo andar no seu, na praia do Flamengo, para instalar a biblioteca. Com a obra, seu edifício ficou com a mesma altura do prédio vizinho, mas não adiantou muito.
Tancredo Neves e Magalhães Pinto, chefes de partidos rivais, foram para o edifício Rio das Velhas na avenida Atlântica. Os adversários, o que significa dizer, todo mundo, chamavam-no de "São Dimas", o bom ladrão crucificado no Calvário.
(A pedido de sua mulher, Magalhães conseguiu que o Rio das Velhas mudasse de nome.)
ISRAEL
O governo israelense resignou-se e já entendeu que Dani Dayan não terá o beneplácito do Itamaraty para assumir a embaixada no Brasil.
A doutora Dilma está sendo gentil. Depois de ele ter dito que o governo israelense devia reagir ao silêncio brasileiro "segurando o touro pelos chifres", a indicação devia ser simplesmente recusada.
É nisso que dá preencher embaixadas no exterior olhando para arranjos de política interna. Dayan é um empresário, militante de causas radicais em seu país.
DAKOTA
Para quem gosta de ler bobagens, está na rede o livro "Life at the Dakota" (A Vida no Dakota - O endereço mais esquisito de Nova York").
Conta a história do edifício onde foi filmado "O Bebê de Rosemary" e em cuja entrada morreu o morador John Lennon. Nele habitaram pelo menos dois fantasmas, os elevadores andavam sozinhos e objetos moviam-se por conta própria. Para piorar, um de seus moradores foi o ator Boris Karloff, o grande vampiro de filmes de terror.
Erguido em 1884 na banda errada da cidade numa época em que morar em edifício era coisa de gente sem classe, em 1960 todo o prédio foi comprado por US$ 4,6 milhões, vindo junto um terreno adjacente que valeu US$ 2 milhões. Um avaliador contratado por um banco estimou que os terrenos valiam US$ 3,8 milhões. Quanto ao prédio, zero. Nessa época, a atriz Lauren Bacall comprou seu apartamento de três salas e três quartos por US$ 48 mil. Ele foi vendido em julho passado por US$ 23,5 milhões.
-REAPARECEU 'SILVINHO', UM PERSONAGEM DO MENSALÃO
A defesa do comissário José Dirceu soltou uma informação de aparência banal: quem nomeou Renato Duque para uma diretoria da Petrobras não foi ele, mas Silvio Pereira, o "Silvinho", secretário-geral do PT até 2005. No seu depoimento na sexta-feira, Dirceu limitou-se a dizer que não indicou Duque, sem citar "Silvinho".
"Silvinho" não era um petista qualquer. A primeira sede do partido, em Osasco, funcionou nos fundos da lanchonete Cebolinha, de sua família. Em 2003, ele coordenava a distribuição de cargos para o partido, com a ajuda de 130 cadernos e blocos. É plausível que o nome de Duque tenha passado por "Silvinho".
Nessa época, o PT ajudava a manutenção de alguns de seus quadros do novo governo. Nada a ver com a máquina distributivista do mensalão, cuidava-se apenas do Executivo. Uma pessoa que viu um dos cadernos de "Silvinho" chamou-o de "gibi".
Em 2005, quando a palavra "mensalão" entrou no léxico nacional, Silvio Pereira formou com José Dirceu e o tesoureiro Delúbio Soares a trindade do poder petista acusado de corrupção. Ele submergiu, mas meses depois a empresa de engenharia GDK, fornecedora da Petrobras, reconheceu ter dado a "Silvinho" um jipe Land Rover. (Ele devolveu o carro, quanto à GDK, conseguiu 19 novos contratos com a Petrobras e reapareceu dez anos depois na Lava Jato.)
"Silvinho" deixou o partido e em 2008 fez um acordo com a Procuradoria-Geral da República, aceitando cumprir 750 horas de serviços comunitários. José Dirceu e Delúbio não fizeram acordo, um tomou uma sentença de sete anos e o outro, de seis.
Paga a conta, "Silvinho" voltou para Osasco, fez um curso de gastronomia e voltou ao restaurante da família, o Tia Lela, localizado em frente à prefeitura.
Apesar de Silvinho ter dito que "há cem Marcos Valérios atrás do Marcos Valério", as investigações do mensalão deram pouca importância à conexão Petrobras e sua rede de fornecedores. Veio a Lava Jato e deu no que deu. É possível que o Ministério Público se interesse em ouvir de novo Marcos Valério. O sinal dado pela defesa de José Dirceu sugere que talvez valha a pena conversar com Silvio Pereira.
por Elio Gaspari-Folha de São Paulo

"Tem repórter na rua",


Manchete da Folha nesta sexta (29): "Odebrecht bancou reforma de sítio usado por Lula, dizem fornecedores". Foi um furo, e todo furo merece ser comemorado, mas há neste, em particular, um diferencial que o torna digno de nota: a revelação do repórter Flávio Ferreira foi obtida a partir de entrevistas com personagens até então fora do radar dos investigadores da Lava Jato.
É caso raríssimo de reportagem que não foi calcada em vazamentos ou depoimentos oficiais, mas em personagens identificados e que falaram às claras (o chamado "on"), fato inusual em escândalos com personagens poderosos: a dona da loja que forneceu o material de construção, um marceneiro, vizinhos e até um engenheiro da Odebrecht na arena do Corinthians, que, segundo disse ao jornal, fez um bico no sítio de Lula dando apoio informal e gratuito à obra quando estava de férias –mesmo sem saber que ela tinha qualquer ligação com o petista.
Quem acompanha esta coluna sabe que ela é crítica à dominância dos vazamentos anônimos. Não por algum purismo romântico –afinal, grandes furos nasceram assim–, mas por convicção de que o noticiário alimentado por fontes anônimas e desapegado de provas deveria ser a exceção. Na Lava Jato, foi a regra, principalmente na fase inicial.
Não foi a única inflexão acarretada pela megaoperação. Há não muito tempo, era o jornalismo investigativo que acionava o gatilho dos escândalos nacionais e "puxava as penas" que revelavam galinhas insuspeitas, para usar a metáfora atribuída ao ministro Teori Zavascki, do STF. A Lava Jato mudou esse eixo, graças, talvez, à combinação de dois movimentos opostos e independentes que ocorreram simultaneamente: um de contração, forçado por contingências setoriais, outro de expansão, forjado na maturidade das instituições.
Nos últimos anos, as Redações encolheram, perderam parte dos profissionais mais experientes e foram sobrecarregadas com a demanda imediata da cobertura digital.
Ao mesmo tempo, instituições como o Ministério Público e a Polícia Federal aprenderam com fracassos anteriores, ganharam musculatura e "expertise" e assumiram protagonismo inédito. Em parte atordoada pelos solavancos internos, a imprensa se acomodou e foi a reboque.
A reportagem apurada em Atibaia inverteu esse roteiro e impôs sua própria agenda, trilhando o passo a passo clássico do trabalho de repórter: frequentou a cidade, conheceu e deu-se a conhecer, conversou e apurou para contar uma história que estava logo ali, à procura de autor.
por Vera Guimarães Martins-Folha de São Paulo

A ESTRELA DESCE


A estrela do PT mandada desenhar nos jardins do Palácio da Alvorada, em 2004, e depois transportada para a Granja do Torto - duas residências da Presidência da República - já indicava a tendência do casal Luiz Inácio e Marisa Letícia da Silva de tomar por privado o patrimônio público.
As investigações do Ministério Público de São Paulo que servirão como subsídios à Operação Lava Jato relevam mais que isso: um possível favorecimento ilícito por parte de duas empreiteiras, OAS e Odebrecht, na aquisição e reforma de um apartamento no Guarujá e na execução de melhorias de um sítio em Atibaia, respectivamente litoral e interior de São Paulo.
Qualquer semelhança com a reforma dos jardins da Casa da Dinda - residência particular do então presidente e hoje senador igualmente investigado, Fernando Collor - com dinheiro obtido a partir de arrecadação de propinas pelo chamado esquema PC Farias, não é mera coincidência.
Ambos os fatos desenham um elo entre os dois ex-presidentes: a falta de cerimônia no uso do poder para o financiamento do gosto por hábitos de luxo. Prática cultivada desde sempre por Collor, oriundo de família rica de Alagoas, e adquirida ao longo da trajetória política de Lula, filho da pobreza reinante no agreste pernambucano.
A jardinagem e a compra de um Fiat Elba, pagos pelo tesoureiro da campanha e eminência parda do governo, Paulo César Farias, derrubaram Fernando Collor de Mello, castigo (como se vê agora) insuficiente para o aprendizado da lição. De rivais, transformaram-se em compadres da irresponsabilidade e da transgressão.
A compra e reforma do triplex no condomínio Solaris, se não muito bem explicadas ao Ministério Público têm potencial para desalojar Lula do panteão dos invencíveis onde foi posto pelo eleitorado, e ainda fazê-lo perder a vaga no altar das santidades em que ele mesmo se colocou ao se declarar “a alma viva mais honesta do País”.
Com a convocação do MP paulista para depoimento em meados de fevereiro junto com a mulher Marisa e o empreiteiro Léo Pinheiro, Lula transita da condição de testemunha e/ou informante para a posição de investigado. Em miúdos: antes o que se pedia ao ex-presidente eram informações a respeito de fatos que poderiam ou não ser do conhecimento dele; agora, o que o MP apura é a participação do ex-presidente no suposto uso da comercialização dos apartamentos em esquema de lavagem de dinheiro.
A consequência é que se não convencer os procuradores, provavelmente sairá do depoimento denunciado e, com isso, irremediável e gravemente ferido do ponto de vista político. Não será fácil a tarefa de demonstrar sua inocência. Primeiro, porque já foram apresentadas diversas e contraditórias versões a respeito da propriedade.
Em 2006, ele declarou o imóvel no Imposto de Renda; em 2010, confirmou a propriedade imaginando se defender de uma infração tributária; em 2014, confirmou a versão para duas semanas depois adaptá-la, dizendo que Marisa Letícia tinha uma cota do empreendimento, mas que não havia feito opção de compra da unidade. Seis meses depois, sua assessoria passaria a negar a existência de posse.
Em segundo lugar, o ex-presidente terá de desmontar de maneira definitiva os depoimentos de testemunhas que confirmam a presença dele e de Marisa, esta com maior frequência, no condomínio para acompanhar as obras de reforma e decoração do imóvel. Se o apartamento não pertencia a eles, o que faziam lá?
A princípio, cuidavam do patrimônio do casal. A menos que zelador e moradores, cujas versões confirmam as presenças, sejam insidiosos conspiradores cooptados pela nossa diligente e sempre alerta oposição.
A estrela desce Dora Kramer - O Estado de S. Paulo 31 Janeiro 2016 | 05h 00 - Atualizado: 31 Janeiro 2016 | 05h 00 A estrela do PT mandada desenhar nos jardins do Palácio da Alvorada, em 2004, e depois transportada para a Granja do Torto - duas residências da Presidência da República - já indicava a…
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A GANGORRA DO PT EM RISCO


Na gangorra petista, Lula está em baixa e Dilma parece em alta, mas esse movimento não tem mais como se inverter. Lula parou onde está: não tem como sair do atoleiro e voltar a subir ao patamar de líder político mais popular da história recente. E a posição de Dilma é incerta: ela ainda não escapou de afundar junto com a economia.
Abraçado a sua mulher, Marisa Letícia, e a seu filho caçula, Luis Cláudio, Lula vem sendo sugado para o centro dos escândalos pelo peso de um tríplex no Guarujá, um sítio em Atibaia, envolvimento com as maiores empreiteiras da Lava Jato, suspeita de venda de medidas provisórias e o envolvimento em série de seu primeiro escalão no mensalão, na Lava Jato e na Zelotes.
O valor do tríplex na Lava Jato vai muito além dos três andares, do elevador personalizado e dos R$ 777 mil da reforma, R$ 380 mil só para o mobiliário da cozinha e do quarto doados pela OAS. Ele vale principalmente por ser do Edifício Solaris, a maquete de concreto, tijolo e vidro de como o roubo na Petrobrás se processava.
Assim: o dinheiro saía da maior estatal brasileira, passava para os cofres de uma das maiores empreiteiras e dali era distribuído alegremente para a turma que comandava e comanda a política e o Executivo do país. Claro que passando por atalhos convenientes, como offshores e uma cooperativa de bancários presidida pelo PT - inclusive por um dos presos da Lava Jato.
Pelo tríplex, a situação de Lula mudou drasticamente de patamar. Se já era espantoso um ex-presidente ter de papear horas e horas na Polícia Federal, Lula e sua mulher agora estão intimados pelo Ministério Público de São Paulo para depor. Ele não é mais só testemunha.
Lula classifica as dúvidas do MP paulista de “infundadas e levianas” e o presidente do PT, Rui Falcão, diz que tentam “derreter Lula” para “destruir o PT”. São adjetivos e expressões fortes, mas procuradores, delegados e opinião pública querem algo mais substantivo: as empreiteiras davam ou não imóveis milionários para Lula, Marisa e companheiros do PT? Em troco do quê? E quem bancava era a Petrobrás?
Enquanto Lula se debate entre a serra e o mar, Dilma vai navegando, ora com ondas imensas, ora só sacolejando - como neste momento em que a agenda da presidente tem um objetivo político claro: demonstrar que tem como atravessar a tempestade e chegar viva à praia de 2018.
Numa só semana, antes do fim do recesso do Congresso, Dilma reuniu dezenas de representantes das finanças, da indústria, do comércio, da sociedade civil; anunciou sete medidas para tentar injetar R$ 83 bilhões de crédito na economia anoréxica; acenou com a redução da conta de luz; reuniu-se com líderes americanos; falou ao telefone com Obama.
Ao dizer que “vamos ganhar a guerra” contra o Aedes aegypti, o que Dilma tenta gritar é: “Eu vou ganhar a guerra!” Nenhuma das duas é fácil. Oferecer crédito a pessoas e empresas que não querem contratar dívidas? Usar o FGTS, um fundo dos trabalhadores, para corrigir erros do seu próprio governo? Centrar o discurso e a saída fiscal na CPMF, que o Congresso e a sociedade rejeitam?
Bem, o fato é que Lula está muito pior do que Dilma, que pelo menos saiu dos holofotes negativos para os positivos. É um avanço, ou um alívio. Só não se sabe até quando. E é aí o nó da questão: se o lado de Lula está no chão (e de lá não vai sair) e Dilma não está firme e forte em cima, o risco é os dois desabarem e a gangorra do PT se espatifar.
Alerta. Só na quinta e na sexta-feira passadas, o Consulado de São Francisco, nos EUA, emitiu ARB (Autorização de Retorno ao Brasil) para 12 turistas sem passaportes, documentos nacionais, dinheiro e pertences furtados em diferentes carros alugados. Furto, como o zika, não é exclusividade do Brasil.

A gangorra do PT em risco Tags: Colunistas, Luiz Inacio Lula da Silva, Operação Lava Jato, Operação ZelotesEliane Cantanhêde 31 Janeiro 2016 | 05h…
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FLORES DO RECESSO


A segunda notícia, outra que aparece por múltiplos portadores, é mais um desejo, ou uma previsão, que um fato, e sua origem é o Palácio: trata-se da avaliação, e não é mais que isso, segundo a qual o impeachment estaria afastado.
É claro que é apenas uma versão. O leitor sabe que o Petrolão alcançou o grotesco reconhecimento internacional de estar entre os piores escândalos de corrupção da história da humanidade. Como o beneficiário desse assalto perpetrado contra a Petrobrás foi o partido que ganhou as eleições, talvez apenas a nossa Velhinha de Taubaté, se estivesse viva, acreditaria que essa dinheirama não entortou os resultados das urnas.
Mesmo ela, que, segundo relata seu criador, faleceu (talvez um suicídio) em decorrência do noticiário do “Mensalão”, a essa altura, provavelmente já teria mudado de opinião, pois o seu FGTS estava todo investido em ações da Petrobrás. Nem o confisco do Collor lhe deu tanto prejuízo.
Pois bem, a presidente da República que presidiu o conselho da Petrobrás durante boa parte das atividades que compõem o Mensalão e que produziu o maior desastre econômico dos últimos 100 anos, quer ficar até o fim de seu mandato, que é tão legítimo quanto os recursos utilizados na sua campanha, incluídos os de “pedaladas”.
No balanço da Petrobrás constam exatos R$ 6.194 milhões de baixas contábeis decorrentes de propinas pagas no âmbito do Petrolão, entre 2004 e 2012, cuidadosamente calculadas a partir das revelações da Operação Lava Jato. São valores calculados pela própria empresa, reconhecidos em balanços auditados e sujeitos ao escrutínio de reguladores daqui e do exterior. É o primeiro caso de corrupção auditada na história do Brasil.
A matemática aqui é muito simples: um terço desse valor teria ido para o PT (cerca de R$ 2 bilhões), conforme se conclui das demonstrações financeiras da Petrobrás, e a campanha presidencial custou cerca de R$ 300 milhões.
Diante desses números todos, sobretudo os da economia, causou certo impacto a entrevista recentemente concedida por um dos mais proeminentes conselheiros da presidente, o ex-ministro Delfim Netto, segundo o qual “não tem mais impeachment” e “se ela não assumir seu protagonismo (...) vai ser uma tragédia”.
Não me parece que o conselheiro pudesse dizer nada muito diferente do combinado, ou seja, que a presidente dá conselhos a si mesma através de terceiros, uma curiosa situação que me traz à mente as que são estudadas com muita verve nessa inesperada joia intitulada Piadas do Žižek: você já ouviu aquela sobre Hegel e a negação?, o mais recente livro de Slavoj Žižek, uma estrela entre intelectuais marxistas, filósofo e teórico da psicanálise.
Nesse seu livro, ele trata de utilizar o “gênero” (piada) como estrutura ou padrão lógico, quem sabe como um bloco de equações que serve a múltiplas situações, sempre com intuito subversivo e arrasador.
A permanência de Dilma até o fim de 2018 evoca uma de suas histórias, na qual um judeu, Rabinovitch, procura emigrar do desastre econômico e político que era a União Soviética e alega ter dois bons motivos. O primeiro, diz ele, é que o comunismo vai colapsar, seus crimes serão denunciados e podem querer colocar a culpa nos judeus. Diante disso, o oficial da emigração reage com ardor:
– Mas isso não faz sentido nenhum, camarada, a União Soviética durará para sempre!
Em resposta, Rabinovitch murmura:
– Esse é o segundo motivo.
Mais engraçado que a piada, bem antiga e conhecida em diversas versões, são as declinações filosóficas e variações de Žižek, que vamos omitir, mas oferecer uma nova, que deriva de rumores vindos de Brasília segundo os quais um membro da atual equipe econômica, um desses que a profissão costuma colocar dentro da categoria do “pensamento mágico”, foi ao chefe da Casa Civil pedindo para deixar seu emprego, e por dois motivos. Conforme fontes, ele teria dito ao ministro:
– A presidenta insiste em seguir roteiros neoliberais para lidar com a crise, deixando para trás os nossos ideais históricos, a crise é enorme, vai piorar muito e vão culpar a nós, os heterodoxos e nossa nova matriz.
O ministro o interrompe:
– Não se preocupe, companheiro, a presidenta vai recuperar seu protagonismo, abandonar os desvios neoliberais, vai voltar às nossas ideias de sempre e cumprir seu mandato até o fim.
– Esse é o segundo motivo, responde, previsivelmente o economista.
Reparem que só um heterodoxo DOC (Denominação de Origem Controlada) poderia achar que a companheira presidente está seguindo alguma receita neoliberal. Mas o autoengano (ou a teimosia), como se sabe, é parte da tragédia da nova matriz, como da União Soviética.
Que tudo vai ficar como sempre foi na União Soviética, e na nova matriz, fica claro pelo fato de que Dilma Rousseff, a fim de recuperar seu “protagonismo” (e esse termo deve ter o mesmo destino de “presidenta”, tenha-se claro), resolveu fazer um pronunciamento para o chamado Conselhão. O leitor deve ter claro que não existe nenhuma inutilidade mais portentosa do que esse conselho, certa vez designado por Francisco de Oliveira como o “Camarão”, aludindo a seu caráter de câmara setorial de toda a economia.
Não vale lembrar o que foram as câmaras setoriais no passado para o leitor não perder o seu apetite, basta ter em conta que eram os ambientes de acordos onde os custos cabiam a quem não sentava na mesa. Uma fórmula fácil, enganosa e vigarista. As tentativas tupiniquins de “pacto social” tiveram essa mesma embocadura e nunca prosperaram.
O “Camarão” nasceu com essa filosofia, e ver Dilma buscar sua salvação anunciando medidas para um Camarão renovado parece uma piada do Žižek. Seria sumamente melhor para o País que ela esquecesse o seu protagonismo.
Flores do recesso Tags: PIB, Palácio, Petrobrás, Mensalão, FGTS, Operação Lava Jato, Brasil, PT, Delfim Netto, Hegel, Brasília, Dilma Rousseff, Conselhão, Francisco de Oliveira, CamarãoGustavo H. B. Franco 31 Janeiro 2016 | 03h 00…
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O OSSÁRIO PETISTA


Há coisas que o PT gostaria que o País esquecesse. Mas os escândalos do partido, os presentes e os pretéritos, são tão resistentes que, tal como mortos-vivos, zanzam pelos becos da história e, quando parecem sepultados, retornam para assombrar os petistas - e indignar ainda mais os eleitores que acreditaram em sua farsesca defesa da ética e da moralidade pública.
Enquanto o Brasil ainda prende a respiração na expectativa dos desdobramentos do petrolão, escândalo cujo desfecho a cada dia parece mais distante diante da contínua descoberta de novos crimes e criminosos, eis que outro caso, este investigado desde 2007, ressurge para se revelar não como o caso isolado que parecia ser, e sim como dente da grande engrenagem delinquente do PT. Trata-se do desfalque na Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop).
Pode-se dizer que o caso Bancoop foi uma espécie de laboratório do PT para testar maneiras de subtrair do alheio vultosos recursos para financiar seu projeto de poder eterno - e, de quebra, enriquecer alguns de seus operadores. Conforme a investigação do Ministério Público, o partido nem havia chegado à Presidência, em 2003, e já organizava o esquema de desvio na cooperativa dos bancários.
A Bancoop foi fundada em 1996 pelo ex-sindicalista e hoje ministro da Secretaria de Governo Ricardo Berzoini e chegou a ter 15 mil cooperados, que tinham a expectativa de residir nos imóveis construídos pela entidade. De acordo com o Ministério Público, os incautos mutuários desse fundo foram lesados em cerca de R$ 100 milhões. Muitos dos prometidos prédios jamais saíram do chão. Em vez de ser usado para honrar o combinado em contrato com os mutuários, o dinheiro da Bancoop, segundo a denúncia, foi parar nos cofres do PT graças a uma engenharia malandra liderada por João Vaccari Neto, que presidiu a cooperativa entre 2004 e 2010, quando se tornou tesoureiro do partido.
Mas essa é uma história antiga - um processo contra Vaccari, denunciado junto com outros dirigentes da Bancoop por estelionato, formação de quadrilha, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, corre desde outubro de 2010. Eis que, no entanto, Vaccari acabou sendo preso no âmbito da Operação Lava Jato, acusado de participar do esquema de lavagem de dinheiro para abastecer o PT. Naquele momento, em meados do ano passado, os mutuários da Bancoop que se dizem lesados por Vaccari, cerca de 8 mil, recobraram a esperança de que afinal se fizesse justiça.
Essa expectativa, no entanto, deu lugar a uma justa indignação quando se divulgou que um privilegiado cooperado da Bancoop, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, que nunca foi bancário, não só recebeu seu apartamento, como o luxuoso imóvel fora inteiramente reformado pela empreiteira OAS - empresa investigada na Lava Jato e que assumiu alguns empreendimentos da cooperativa depois que esta se tornou insolvente.
Quando Lula foi apontado como o feliz proprietário de um tríplex no Guarujá, enquanto milhares de anônimos que tiveram seu dinheiro tungado pela quadrilha da Bancoop lutam na Justiça para ter alguma compensação, o personagem conhecido pela alcunha de Brahma caprichou na indignação e negou ter vínculo com o imóvel - versão contestada por diversas testemunhas.
O caso do tríplex recolocou o esquecido escândalo da Bancoop no noticiário. Mais do que isso: deixou claro que, no caso do PT, não é mais possível falar em “escândalos”, no plural, e sim em um único e portentoso modelo de negócios. Mensalão, petrolão, Bancoop e o que mais venha têm claras conexões uns com os outros e se destinam, todos eles, a irrigar o PT com recursos ilícitos - e, eventualmente, permitir que a tigrada desfrute de algum fausto.
Não se sabe quais outros fantasmas ainda aparecerão para assombrar os petistas. Numa história partidária que inclui até mesmo um assassinato em circunstâncias mal explicadas - o de Celso Daniel, o prefeito petista que sabia demais -, a noite é longa.
OPINIAO.ESTADAO.COM.BR

"Nem tudo acaba na quarta-feira",

Acontece entre nós uma certa carnavalização da política
O carnaval é o tempo da alegria, em que as pessoas se irmanam no riso. Segundo o teórico russo Mikhail Bakhtin, a alegria popular é uma contrapartida à seriedade e chatice dos ritos oficiais. Acontece entre nós uma certa carnavalização da política. Algo diferente de se fazerem milhares de máscaras do japonês da Federal e sair cantando: vem pra cá, você ganhou uma viagem ao Paraná. Isso é a política no carnaval. Os discursos de Dilma e Lula são o carnaval na política. Ela conseguiu emplacar dois sucessos em 2015: “Saudação à mandioca” e “Armazenando o vento”.
Na primeira, Dilma pré-colombiana se entusiasmou com nossas origens indígenas. Na segunda, apenas mencionou um processo real mas que ainda não está consolidado: armazenar o vento nas rochas, como um ar comprimido. O sucesso da “Saudação à mandioca” é o entusiasmo de Dilma que se derrama para o milho. No “Armazenando o vento”, o refrão “daqui pra lá, de lá pra cá” transmite ação, é bastante expressivo para descrever o vento.
Deixando sua fase mais popular, Dilma ficou zangada com as previsões do FMI. “Estou estarrecida”, confessou. Como se nunca tivesse lido uma previsão que falasse do buraco em que caímos, até 2018, no mínimo. Mas estava reservada ao criador da criatura o papel de vocalista do bloco. Lula disse aos seus blogueiros de estimação que não existe no Brasil alma viva mais honesta do que ele. Com todas as reservas sobre a existência da alma, e dúvidas sobre se a de Lula está realmente viva ou é apenas um fantasma fugindo da polícia, esta frase abriu o carnaval de 2016.
Lula disse isso num momento em que está acossado por várias investigações, medida provisória vendida, compra de caças, triplex, sítio, enfim tudo o que aparece nas notícias e mais alguma coisa escondida nos inquéritos ou no fundo da garganta de um potencial delator premiado. Ao se proclamar a mais honesta alma viva do Brasil, Lula optou por um passe de mágica que deve ter maravilhado seus intérpretes oficiais, os blogueiros que levam grana do governo. É como se o protagonista, completamente cercado pela polícia, ficasse invisível, ou voasse como um herói de história em quadrinho: shazam.
Ele decidiu ocupar um lugar no Olimpo. O interessante é que, ao contrário dos deuses que tudo sabem, Lula nunca sabe de nada. É uma figura mitológica que derrota o amante traído na disputa por ser o último a saber. Bakhtin tem uma outra visão da etimologia do carnaval. Ao contrário dos que dizem que é a festa da carne, amparando-se na palavra latina, Bahktin mostra que a raiz germânica indica para a expressão: procissão dos deuses mortos.
O fato de os dirigentes serem carnavalescos não intencionais não teria o poder de atenuar seus erros com um pouco de humor? Sei que muitos vão escrever: onde está a indignação diante de tudo que roubaram? Não há espaço para rir deles. Concordo com a indignação com a roubalheira porque ela representa sofrimento, e no caso da saúde, morte precoce para o povo brasileiro. O fato é que eles estão aí. Sérios ou engraçados, assaltariam o país de qualquer maneira. Um pouco de humor não atrapalha. Como dizia Vinicius de Moraes, a gente trabalha o ano inteiro, por um momento de sonho, para fazer a fantasia de rei, ou de pirata ou da jardineira.
O sonho de carnaval, na canção de Vinicius, acaba na quarta-feira. Mas nesse ponto concordo com Bakhtin: o carnaval é mais longo. Aí está o nó. O Brasil oficial vive o sonho de uma potência emergente, incessante redistribuição de renda, orgulha-se de sair no bloco bolivariano e rejeita quem insiste que já é Quarta-feira de Cinzas. No entanto, é um país decadente, que puxa para baixo a própria economia global, e está infestado de mosquitos do Aedes aegypti real ao tsé-tsé simbólico. Aqueles blocos que saem depois do carnaval são animados, ganham alguns minutos na TV, mas sabem que são efêmeros.
Os blocos oficiais parecem não saber. Não adianta gritar que o carnaval acabou. Eles não ouvem. Se ouvirem, daqui a alguns meses, vão responder como Dilma ao documento do FMI: “estou estarrecida”. Estamos estarrecidos há muito tempo. E não apenas com a situação econômica, mas com a gravidade da crise, com a perda de oportunidades nacionais, com o estado da imagem do Brasil no mundo, enfim essa longa lista de choros.
O carnaval demarca o tempo da alegria, um prazer com tempo para acabar, a finitude como a qualidade do próprio prazer. O bloco do governo não soube brincar. Confundiu festa e trabalho, realidade e fantasia, partido e país, dinheiro público e patrimônio. É um dos blocos que o carnaval popular rejeita. De um modo geral, são os que saem fantasiadas da cadeia, na Quarta-feira de Cinzas.
Mesmo na política carnavalizada, no entanto, nem tudo acaba na quarta-feira. Um japonês sem máscara vai bater o ponto na Federal de Curitiba, os processos correm, as línguas desatam, daqui a pouco, quem sabe, é domingo de Aleluia.
por Fernando Gabeira-O Globo

Autoritarismo do bem

“Eu não sei se a América Latina teve um presidente com as experiências democráticas colocadas em prática na Venezuela (…) Ninguém pode acusar aquele país de não ter democracia, poder-se-ia até dizer que tem excesso.”(Lula, 29/09/2005)
Paris é sempre inspiradora e em junho de 2013 um par de meses já havia se passado desde minha chegada à cidade, quando de norte a sul começavam a pegar fogo as manifestações por aqui. Acompanhei febrilmente a Copa das Confederações, admito, mas entre as partidas só dava cobertura da CNN na minha tevê, assim como pela internet fiz todo esforço possível para ficar atualizado.
Lembro-me muito bem, as tomadas aéreas não deixavam dúvidas sobre o peso histórico do momento, entretanto nenhuma delas causou em mim reação tão forte quanto as imagens de violência gratuita promovida por bandidos mascarados.
E foi justamente este sentimento de repúdio mesclado com algum tipo insondável de curiosidade mórbida que me guiou até a Place de la Nation, onde teria vez um protesto veiculado nas redes sociais por brasileiros residentes na capital francesa.
Sem surpresas, dei de cara com meia dúzia de imberbes decididos a empanar a realidade, exatamente como acontece hoje em dia em São Paulo. Quem sabe, até mesmo saudosos, suspirando por um passado revolucionário que não é seu, mas que, convenhamos, lhes foi introjetado com afinco.
Acima de tudo, porém, e este aspecto foi o que mais me alarmou, tratavam-se claramente de indivíduos autoritários, visivelmente incomodados com a heterogeneidade das demandas e a mistura de tipos tão comum em qualquer catarse popular que se preze. “Reaça, vaza desta praça!”, bradavam sem o menor constrangimento.
Corta.
Durante uma dessas manifestações recentes em São Paulo, cujo abre-alas alardeia “3,80 O POVO NÃO AGUENTA”, como se desemprego, recessão, e a gangrena nas contas públicas promovida pela corrupção fossem cosméticos, ocorreu o seguinte: lá pelas tantas um policial solicitou ao grupo responsável por obstruir uma das principais vias da cidade, sem a menor cerimônia ou aviso prévio, que liberasse o corredor de ônibus ao transporte público e ambulâncias.
Deu-se então o irritante périplo, idas e vindas de uma menina visivelmente comovida pela instantânea notoriedade, sou a nova Sininho, sou a nova Sininho, sou a nova Sininho, talvez tenha repetido para si até solenemente divulgar o veredicto. Nada feito para o cidadão que voltava para casa, tampouco ao necessitado de urgente atendimento médico.
Corta.
Rio de Janeiro, fim do ano passado, Chico Buarque passeava pelo Leblon com amigos quando foi interpelado por um grupo cobrando seus posicionamentos políticos. O fato causou comoção nacional, um gênio da musica, além de tudo “senhor de 70 anos”, fora vítima de uma agressão abominável.
Terça passada, Porto Alegre, a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul recebia a visita do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) para um encontro do seu partido quando manifestantes de um certo Levante Popular da Juventude, aos gritos de “homofóbico”, “racista” e “fascista”, decidiram polvilhá-lo com purpurina rosa enquanto concedia uma entrevista.
Corta.
Novamente junho de 2013, Brasília, arredores do estádio Mané Garrincha. Clima de festa por um lado, com a seleção estava prestes a fazer sua estréia na Copa das Confederações, e apreensão pelo outro, não bastasse a retórica estapafúrdia da tarifa zero, o slogan “não vai ter Copa” pretendia ser levado a sério.
Policiais fizeram um cordão de isolamento em torno do estádio para proteger os torcedores e filtrar quem estava com ingresso, estratégia esta que, diga-se, é adotada em todos os eventos de mesmo porte pelo mundo, e mesmo assim os manifestantes trataram de furar o bloqueio por mais de uma vez.
A cena que ecoa até hoje é a de uma manifestante, desnecessariamente caracterizada de palhaça, assoprando bola de sabão a poucos centímetros do rosto de um policial estático.
Corta.
Não vou mentir, testemunhar uma juventude tão imbecilizada como a atual é frustrante. Os mais antigos com toda certeza devem engatar um bocejo daqueles ao ler estas palavras, afinal também em outras épocas os jovens marcaram sua presença pela mistura de ignorância com prepotência. Pode ser, mas eu também não tenho saída.
Quero dizer, se estou fadado a viver o hoje, só me resta lamentar por quem jamais teve tanta oportunidade para aprender com o passado e ainda assim se deixa levar por ensinamentos reconhecidamente falidos.
O pior de tudo, porém, é constatar uma tirania pré-absolvida pairando sobre nós, especialmente quando se tratam de inimigos do ideário vigente. Um rolo compressor amoral já desinibido, inequivocamente intolerante, capaz até mesmo de deturpar a democracia quando se trata de defender os seus.
Corta.
Mario Vitor Rodrigues
Mario Vitor Rodriguesé escritor, apaixonado por gastronomia, futebol, séries e cinema. Já morou em Nova Iorque, Paris e, após uma temporada em Milão, está de volta ao Rio para finalizar seu próximo romance pela Nova Fronteira. Sempre no twitter @mvitorodrigues

A consciência sobre direito

A pendenga entre advogados e juízes, abrigando divergências sobre a Operação Lava Jato, aqueles com sérias críticas ao que chamam de “espécie de inquisição” e estes defendendo o trabalho “imparcial e exemplar” do Judiciário, é um representativo episódio do debate que se arrasta no país sobre o campo dos Direitos.
Quem tem razão?
O que está no centro da discussão é a pertinência legal ou não de protagonistas na realização de suas tarefas, assim exposta: o juiz Sérgio Moro, de 1ª instância, exorbita funções ao assumir, praticamente sozinho, o largo repertório de investigações para apurar desvios de recursos no entorno da Petrobras e usar de modo excessivo o instrumento da delação premiada para abrir a torneira da corrupção?
Ainda no âmbito do Judiciário, a Suprema Corte cumpre o estrito dever de interpretar a Constituição ou invade o território do Poder Legislativo, ao desfiar posições definidas no Regimento Interno das casas congressuais, como o ordenamento para o impeachment presidencial, a ponto de ser considerada pivô de tensões e acusada de judicializar a política?
As questões sobre direitos e deveres, vale lembrar, têm se multiplicado desde 1988, quando se promulgou a Constituição Cidadã, cuja designação mostra a pletora de situações envolvendo os mais diferentes aspectos da vida social. Ponderável parcela do acervo normativo, ao deixar de receber o devido regramento por meio de legislação infraconstitucional, bate frequentemente nas portas do Supremo Tribunal Federal, abrindo espaços para tensões, querelas e muita polêmica. A par dos vazios constitucionais, o país que reabriu as portas da redemocratização em 1986, continuou a conviver com práticas e costumes tradicionais, fato que tem agravado a crise política, cujas consequências ameaçam as próprias bases da governabilidade.
Se adicionarmos a essa devastada paisagem as crateras cavadas pela engrenagem administrativa, sob a égide do presidencialismo de cooptação partidária, aportaremos no gigantesco arquipélago que administra o país, formado por uma ilha maior, onde se concentra o poder (União), ilhas menores e dependentes (Estados) e pequenos nacos de terra, extremamente carentes (Municípios).
O arremedo final da malha administrativa é a relação contaminada entre a burocracia do Estado (nas três instâncias federativas), corpos da representação política e círculos de negócios, ensejando um conluio que descamba para um elevado Produto Nacional Bruto da Corrupção.
As crateras abertas pela Constituição de 88 tinham um prazo para ser tampadas, por exemplo, o fim dos anos 90. Não o foram. Ao contrário, a política não fez mudanças substantivas ao longo dos últimos 30 anos, continuando a operar à base de fisiologismo e cultivo de currais eleitorais; a economia até encontrou saídas para se fortalecer (Plano Real), mas, sob o mando do PT, acabou fenecendo nas ondas de uma “matriz econômica” ancorada no crédito fácil e massificação do consumo.
Classes e grupos sociais, depois de breve visita ao patamar do meio (classe C emergente), descem agora ao fundo do poço das grandes carências. Já são perto de 5 milhões os reingressos à base da pirâmide. E assim, na confluência de crises – política, econômica, social, ética e de gestão -, a sociedade encontra uma resposta plausível para resgatar sua esperança: a justiça. O Judiciário passa a ser visto como o espaço sagrado e intocável, cuja luz poderá voltar a iluminar veredas cheias de entulho. A prisão de empresários e políticos teria, sob esse prisma, o condão de reacender a fé.
Nesse ambiente borrascoso enxerga-se a querela entre advogados e juízes ou entre o STF e componentes do Legislativo. Para a sociedade, Sérgio Moro transforma-se em ícone da moralidade. O que faz – mesmo com excessos – passa a se justificar plenamente por grupos sociais principalmente das margens, que aplaudem calorosamente a aplicação da justiça, neste caso, a prisão de corruptos e corruptores. Até que enfim, pensam, o Brasil nivela todos os seus cidadãos pela régua da lei.
Da mesma forma, a judicialização da política, levada a efeito pelo STF, também tende a ganhar aprovação social, mesmo sob o risco de danos institucionais provocados por interferência legislativa da Corte maior no espaço parlamentar. Poucos se dão conta de que os ministros do STF, ao adentrarem o terreno do regimento interno das Casas Congressuais, estariam repartindo com os parlamentares as funções legislativas. O que se comenta é o fato de que o Judiciário está julgando as situações que batem em seu foro.
O fato é que a esfera política vive um dos piores momentos de sua imagem. Mesmo com um bom desempenho – foram densas e múltiplas as pautas votadas em 2015 -, o corpo parlamentar, como um tudo, acaba afogado na lama dos escândalos de corrupção, a par das suspeitas que recaem sobre seus dirigentes.
Assim, os atores políticos se distanciam do povo, que os vê como extensões do mal. Cria-se um imenso vazio no meio da sociedade, que passa a ser ocupado por uma miríade de organizações (entidades, movimentos, núcleos, associações, federações, sindicatos). Estas, sim, passam a representar os grupamentos sociais.
São essas organizações que ensaiam o hino dos Direitos. Cada nicho quer ver direitos garantidos. Essa consciência é a boa nova. Por aqui, a cidadania sempre foi uma abstração. Ao longo de nossa história, fomos identificados com a estadania, como designa o historiador José Murilo de Carvalho a cultura do cidadão acolhido pelos braços do Estado. Ao contrário do desenvolvimento de outros povos, como o inglês.
Na Inglaterra, o sociólogo Thomas Marshall mostra que vieram, primeiro, no século XIX, os direitos civis, depois os direitos políticos e, por fim, já no século XIX, os direitos sociais. Por aqui, os direitos sociais (na era Vargas) tiveram prevalência sobre as liberdades civis. Em suma, no meio do maior lodaçal da vida contemporânea, vemos correr a seiva da consciência cidadã.
Gaudêncio Torquato
Gaudêncio TorquatoÉ jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter @gaudtorquato

CHARGE DO CHICO

Charge (Foto: Chico Caruso)

Marisa Letícia, a fábula

Protagonista de absurdos -- dos canteiros em formato de estrela que mandou plantar nos jardins do Palácio da Alvorada e da Granja do Torto à requisição e obtenção de cidadania italiana para ela e a prole no segundo ano do primeiro mandato presidencial de seu marido --, Marisa Letícia Lula da Silva volta à cena. E em grande estilo. Seria dela a opção de compra do tríplex frente ao mar no Guarujá, alvo de investigações do Ministério Público de São Paulo e da Lava-Jato. O mesmo imóvel que já foi, era e nunca foi de Lula.
Idealizado pela Bancoop, cooperativa criada em 1996 pelos petistas ilustres Ricardo Berzoini, hoje ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, condenado a 15 anos e quatro meses pelo juiz Sérgio Moro, o tríplex apareceu na declaração do candidato Lula, em 2006, com um valor irrisório de R$ 47,6 mil. Referia-se a uma parcela do financiamento do Edifício Solaris, então na planta, em que outros petistas, incluindo Vaccari, tinham comprado apartamentos.
Até aí, o anormal era apenas o fato de a Bancoop lançar um empreendimento de alto luxo depois de já ter dado cano na praça, usurpando a poupança e os sonhos de mais de três mil cooperados. Algo que Lula, como sempre, alegará que não sabia.
A estapafúrdia história do tríplex não para aí.
Em 2010, a assessoria de Lula garantiu que o apartamento pertencia ao ex. Quatro anos depois, o jornal O Globo publicou reportagem sobre o Solaris apontando que o prédio tinha sido concluído enquanto os mutuários da Bancoop continuavam a chupar dedos. E que a unidade de Lula e sua mulher tinha recebido tratamento de alto luxo da OAS, empreiteira que assumiu o empreendimento: elevador interno, substituição de pisos e da piscina. Tudo supervisionado e aprovado por Marisa Letícia.
De repente, com as investigações esquentando, o frente ao mar do casal (ou de Lula, conforme declaração anterior) virou um negócio exclusivo de Marisa Letícia. Do qual, no papel de The good wife, ela desistiu.
Sabe-se hoje que as idas da ex-primeira-dama ao Solaris causavam frisson. Flores eram colocadas nas áreas comuns, todos ficavam sabendo quando ela chegava. Sabe-se ainda que o presidente da OAS, Léo Pinheiro, condenado pela Lava-Jato a 15 anos de reclusão, esteve lá com ela em pelo menos uma das visitas.
E aqui vale a questão: o que faria o dono de uma das maiores empreiteiras do país acompanhar Marisa Letícia na vistoria de uma simples reforma de um apartamento se o imóvel não fosse do ex-primeiro-casal?
Mas há muitas outras perguntas sem respostas. Em um artigo didático, o jornalista Josias de Souza mostra a ausência absoluta de nexo nas explicações de Lula. Argumentos que não explicam, confundem.
Confundir. Talvez seja essa a ideia ou a única saída imaginada por Lula.
Sem conseguir dizer quanto pagou além dos R$ 47,6 mil declarados em 2006 ou apresentar recibos da desistência, com data e valores de reembolso exigidos, tudo que o Instituto Lula fala beira papo para engambelar otário. Nem mesmo a cota nominal para demonstrar que a opção de compra do apartamento foi mesmo de Marisa veio a público. São documentos simples, claros, objetivos. Mostrá-los livraria o Instituto Lula e o próprio ex de torturar os fatos.
Sem isso, resta a Lula, ao PT e aos militantes mais aguerridos atribuir tudo à perseguição histórica ao ex. Tudo – tríplex reformado pela OAS, sítio recauchutado pela Odebrecht, filho que recebe R$ 2,5 milhões por consultoria via Google, os “não sabia” do Mensalão, do escândalo da Petrobras e tantos outros – não passa de uma conspiração para “derreter Lula” e “destruir o PT”, como clama o presidente da sigla, Rui Falcão, no Facebook.
O conto do tríplex ainda vai longe. Mas de cara já se sabe: tem orelha de lobo, focinho de lobo, boca e dentes de lobo. Ninguém vai acreditar que é a vovozinha.
Mary Zaidan
Mary ZaidanÉ jornalista. E-mail: zaidanmary@gmail.com Twitter: @maryzaidan

Por que correr na terceira idade?

A corrida de rua traz inúmeros benefícios para a saúde física e mental da pessoa em todas as fases de sua vida, inclusive na terceira idade, quando ocorrem uma série de mudanças no organismo do idoso, como alterações cardiovasculares e redução da massa magra. Contudo, após os 60 anos, justamente por causa dessas transformações fisiológicas, o cuidado na hora de treinar deve ser redobrado.
De acordo com o cardiologista Marcelo Sobral, a corrida, assim como outros exercícios físicos, ajudam a melhorar o condicionamento aeróbio, ganho de massa muscular, controle da glicemia, redução do peso corporal e controle da pressão arterial em repouso, sem falar na melhora da autoestima. “Porém, para que isso ocorra, é preciso que o treinamento leve em consideração os resultados da avaliação médica e que seja planejado e individualizado”, explica o médico.
Foi seguindo esses conselhos que Manoel Minoru Suenaga, 69 anos, começou a correr há onze anos com o objetivo de combater os efeitos do sedentarismo. “Estava com hipertensão arterial, colesterol alto e triglicérides totalmente fora do controle. Passei, então, a me aventurar em corridas e um ano depois estava fazendo minha primeira maratona”. Hoje o corredor está com a saúde em dia e cheio de planos para sua nova vida de atleta: “Como já não tenho mais ambições profissionais, meu sonho agora é completar as seis Majors”.

FGTS E CRÉDITO CONSIGNADO: É MELHOR NÃO MISTURAR

O debate sobre o uso do FGTS para garantir o crédito consignado, conforme vem demonstrando a intenção o Governo Federal, esconde uma série de riscos. A ideia é que o trabalhador possa disponibilizar 10% do que tem depositado no seu fundo, somados aos 40% de multa por ter sido despedido, como garantia ao financiamento que está contratando.
A proposta, que parece ser um benefício para população, esconde alguns problemas, pois é mais uma ferramenta de obtenção de crédito e que pode minimizar os ganhos da população no futuro.
O que as pessoas não percebem é que o FGTS é uma garantia para o futuro. E por isso, na maioria das vezes, só pode ser usado em situações específicas. O FGTS funciona como uma poupança forçada para o trabalhador, então, não vejo com bons olhos o uso dos recursos para a amortização de dívidas.
Avalio que o trabalhador deve enxergar o fundo como um investimento em longo prazo e respeitar o mesmo. Deve ser encarado como uma reserva estratégica em caso de aposentaria ou demissão. Embora o rendimento seja o menor do mercado, o FGTS é uma forma de forçar o trabalhador a ter uma poupança. As pessoas esquecem a sua finalidade. É uma poupança que ninguém pega ou penhora. O pensamento sobre o FGTS não deve ser o mesmo que outro investimento.
Assim, atrelá-lo ao crédito consignado é perder garantias, lembrando que a realização dessa obtenção do crédito não deve ser banalizada como ocorre atualmente. Hoje, o número de colaboradores de empresas, aposentados e pensionistas que pedem empréstimos com desconto em folha de pagamento, cresce consideravelmente.
O resultado é que os brasileiros estão batendo recordes de inadimplência, por isso, muito cuidado! É importante que as pessoas tenham consciência na hora de utilizar essa linha de crédito. Pensando nisso, preparei dez orientações que devem ser levadas em conta:
Antes de tomar qualquer crédito, é importante conhecer a sua real situação financeira, ou seja, fazer um diagnóstico financeiro, descobrindo para onde vai cada centavo do seu dinheiro durante o mês, registrando também as dívidas, caso existam;
É muito importante não permitir que este empréstimo e que os problemas financeiros reflitam em seu desempenho profissional, pois será muito mais complicado pagar as contas sem nenhum salário;
Antes de buscar pelo crédito consignado, é importante tomar consciência que o custo de vida deverá ser reduzido em até 35%, isto porque a prestação deste será retirada diretamente de seu salário ou benefício de aposentadoria;
É muito comum a utilização do crédito consignado para quitação de cheque especial, cartão de crédito e financeiras. Isso é recomendável, porém, a troca simplesmente de um credor por outro, sem descobrir a causa do verdadeiro problema, apenas alimentará o ciclo do endividamento;
A linha de crédito consignado, sem dúvida, se bem utilizada, é importante, mas não pode fazer parte da rotina de um assalariado ou aposentado, visto que sua utilização deve ser pontual para um objetivo relevante;
Tem sido comum o empréstimo do nome a terceiros por parte de aposentados e até mesmo funcionários, mas este procedimento é prejudicial a todos, por isso não deve ser feito;
Caso encontre taxas de juros mais baixas, a portabilidade também deste crédito é necessária. Para os funcionários, o caminho será falar com a área de Recursos Humanos; para os aposentados, as possibilidades são inúmeras, é preciso pesquisar;
Recomendo para quem quer tomar o crédito consignado que, antes mesmo de assinar o contrato com a instituição financeira, faça uma boa reflexão e analise se este valor, que será descontado diretamente no salário ou benefício, não fará falta para os compromissos essenciais mensais;
Para concluir, o mesmo pode, sem dúvida, ser um grande aliado e não há problema se usado como estratégia para sair de linhas de créditos com juros mais altos, para adquirir algo de grande importância ou ainda em uma emergência. Porém, se apenas utilizá-lo de forma não consciente, pode se tornar mais um grande vilão em sua vida.
Reinaldo Domingos é mestre em Educação Financeira e terapeuta financeiro, presidente da DSOP Educação Financeira, Abefin e Editora DSOP, autor do best-seller Terapia Financeira, dos lançamentos Papo Empreendedor e Sabedoria Financeira, entre outras obras.
O debate sobre o uso do FGTS para garantir o crédito consignado, conforme vem demonstrando a intenção o Governo Federal, esconde uma série de riscos. A ideia é que o trabalhador possa disponibilizar 10% do que tem depositado no seu fundo, somados aos 40% de multa por ter sido despedido, como garanti…
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Roque Sponholz | Humor Político - Rir pra não chorar

Lava Jato mira Gamecorp, empresa de Lulinha

A Gamecorp, empresa que tem como sócio o filho mais velho de Lula, Fábio Luís, encontra-se na alça de mira da Lava Jato. Procuradores da força-tarefa de Curitiba negociam um acordo de delação premiada com Otávio Azevedo, presidente licenciado da empreiteira Andrade Gutierrez, preso há sete meses. O nome de Lulinha, como o primogênito de Lula é chamado na intimidade, pode soar nos depoimentos de Azevedo, informa a revista Veja.
A Andrade Gutierrez é uma das controladoras da antiga Telemar, hoje rebatizada de Oi. Por meio dessa empresa de telefonia, a construtora injetou R$ 5 milhões na Gamecorp em 2005, comprando cerca de 30% da participação societária. Os procuradores querem que Otávio Azevedo revele o que motivou a transação. O candidato a delator resistiu. Mas os investigadores não aceitaram celebrar o acordo de cooperação judicial sem esse pedaço da trama. E o preso decidiu ceder.
De acordo com a reportagem, Azevedo dirá que agiu a pedido de Lula. Nessa versão, o pai de Lulinha, a caminho do término do seu primeiro mandato, tomou conhecimento de que o notório banqueiro Daniel Dantas oferecera-se para virar sócio da Gamecorp. Para impedir que o filho se vinculasse a Dantas, Lula pediu aos donos da velha Telemar, entre eles a Andrade Gutierrez, fizessem uma oferta mais vantajosa. Foi atendido.
O tempo passou. E os novos financiadores de Lulinha não perderam por esperar. Ganharam. Decorridos três anos, o governo Lula alterou a legislação para permitir que a Telemar/Oi se fundisse com a Brasil Telecom. Autorizada a fusão, a Andrade Gutierrez passou a contratar, por meio da Oi, serviços da Gamecorp. Serviços desnecessários, confidenciou Azevedo aos seus advogados. Serviam como canal de repasse sistemático de dinheiro para Lulinha e seus sócios.
Chamam-se Fernando Bittar e Jonas Suassuna os sócios de Lulinha na Gamecorp. No papel, os dois são os donos do sítio que Lula utiliza como refúgio, em Atibaia. A exemplo do que sucede com o apartamento triplex do Guarujá, cuja propriedade é atribuída a Lula, o sítio de Atibaia também entrou no radar da Lava jato. São abundantes os indícios de que empreiteiras enroladas no escândalo da Petrobras borrifaram verbas de má origem nos dois imóveis.
Plugado às redes sociais, Lulinha dedica-se a defender o pai e atacar a imprensa e políticos rivais do PT.
Josias de Souza

MARISA COMPROU BARCO E MANDOU ENTREGAR EM SÍTIO QUE LULA NEGA SER DELE

A ex-primeira-dama Marisa Letícia, mulher de Luiz Inácio Lula da Silva, adquiriu um barco e indicou como endereço para entrega o sítio em Atibaia (SP) que é frequentado pela família do ex-presidente.
O sítio de 170 mil metros quadrados é alvo de inquérito da Operação Lava Jato desde meados do ano passado. A investigação que inicialmente apurava envolvimento da empreiteira OAS com a ampla reforma do imóvel ganhou novos contornos após a suspeita de que as intervenções no local foram pagas pela Odebrecht. As duas empreiteiras são investigadas na Lava Jato por formação de cartel. Ex-executivos e sócios das empresas são réus em processos derivados da operação.
O ex-presidente confirma que, "em dias de descanso", frequenta o sítio. A área está registrada em nome de dois sócios de Fábio Luís da Silva, filho do ex-presidente - Jonas Leite Suassuna e Fernando Bittar, filho de Jacó Bittar, fundador do PT e amigo próximo de Lula.
A nota fiscal fornecida pela fabricante do barco, a empresa Alumax, do grupo Levefort, registra a compra do barco de alumínio, com seis metros de comprimento, modelo Squalus 600. A embarcação foi adquirida em setembro de 2013 por R$ 4.126.
A defesa de Lula não se manifestou. O Instituto Lula reiterou ontem que desde que encerrou o segundo mandato, em 2011, o ex-presidente frequenta o sítio “em dias de descanso". Diz ainda que a "tentativa de associá-lo a supostos atos ilícitos tem o objetivo mal disfarçado de macular" sua imagem.
Intimação
O promotor Cássio Cosserino, do Ministério Público de São Paulo, intimou Lula e Marisa para deporem, como investigados, num inquérito aberto para apurar oito empreendimentos da Bancoop assumidos pela OAS. Um desses empreendimentos é o condomínio Solaris, no Guarujá (SP).
O promotor já admitiu a possibilidade de denunciar o ex-presidente pela ocultação de patrimônio na propriedade do tríplex 164-A, que foi reformada pela OAS ao custo de R$ 777 mil. Lula nega ser proprietário do imóvel.
A defesa de Lula não se manifestou. O Instituto Lula reiterou ontem que desde que encerrou o segundo mandato, em 2011, o ex-presidente frequenta o sítio…
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LOBISTA PRESO CITA ‘LIGAÇÃO’ COM LULA PARA FECHAR NEGÓCIOS

Uma carta apreendida pela Polícia Federal na Operação Zelotes indica que o lobista Mauro Marcondes Machado, preso em Brasília, usava de sua suposta proximidade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para vender seus serviços a potenciais clientes.
Em texto enviado ao ex-presidente da Scania para a América Latina Sven Harald Antonsson, Marcondes se colocou à disposição da companhia para ajudá-la em função de sua "ligação com o presidente da República, vários ministros de Estado e instituições ligadas à indústria". A mensagem não é datada, mas, segundo a investigação, coincide com a vinda do executivo ao Brasil, o que ocorreu em 2008, no segundo mandato de Lula.
Marcondes está preso desde outubro do ano passado e responde a ação penal por participação em esquema de lobby e corrupção para viabilizar a edição, pelo governo, e a aprovação, pelo Congresso, de medidas provisórias de interesse do setor automotivo. Ele atuava como lobista de montadoras em diversas frentes, fazendo chegar pedidos a Lula e ministérios.
A Zelotes apura se pagamentos de R$ 2,5 milhões feitos pelo lobista a um dos filhos do ex-presidente, o empresário Luís Cláudio Lula da Silva, têm relação não só com a edição de medidas provisórias, mas com a aquisição dos jatos suecos, da Saab, para a Defesa brasileira.
Ajuda - Então representante da multinacional sueca em entidades do segmento veicular, Marcondes escreveu ao executivo que assumia o comando da Scania para avisar que tinha, naquele momento, interesse de se manter na função ou passar a outros cargos de direção. "Com a sua vinda para o Brasil, assumindo a presidência da Scania, com a atual situação de crise que estamos vivendo, não me sinto bem em deixar a cia. (companhia). Principalmente neste momento em que eu tenho convicção que posso ajudar muito a empresa e o setor, em função da minha ligação com o presidente da República, vários ministros de Estado e as instituições ligadas à indústria".
Em 2008 o então ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, levou a Lula solicitação do representante da Scania para que adiasse a entrada em vigor de uma norma ambiental mais rigorosa sobre emissão de poluentes por veículos a diesel. Depois disso, o governo fez um acordo com o Ministério Público Federal e outros órgãos cancelando a medida, o que interessava à multinacional. Porém, não se sabe se a decisão foi, de fato, influenciada pela empresa. Uma nova regra só entrou em vigor em 2012.
Num dos inquéritos da Zelotes, a PF destaca que, na carta, Marcondes fala da suposta aproximação com Lula como uma de suas "habilidades empresariais". A mensagem não descreve quais gestões ele faria naqueles tempos de crise para ajudar a Scania. Apenas afirma que não gostaria de se sentir como "aquele que abandona o barco num momento de turbulência". Em interrogatório no último dia 7, questionado a respeito, o lobista silenciou.
Sven Harald presidiu a Scania na América Latina de 2008 a 2011. Não há informação, nas investigações, sobre se o executivo recebeu a carta e sobre qual foi sua reação. Marcondes se desvinculou da companhia em 2010. A relação do lobista com Lula, citada na missiva, remonta à década de 1970, quando Mauro Marcondes trabalhava no setor de Recursos Humanos da Volkswagen e o petista era líder sindical no ABC.
Em depoimento à PF, Lula afirmou nunca ter atendido a pedido de Mauro Marcondes enquanto presidente e que, depois de deixar o cargo, não foi demandado por ele a intervir no governo federal. O petista disse não ter nenhuma relação com o lobista ou suas empresas. Procurada, a Scania no Brasil não se pronunciou, justificando que precisava consultar a matriz na Suécia. O Instituto Lula, presidido por Paulo Okamotto, disse que não iria se manifestar.
Em texto enviado ao ex-presidente da Scania para a América Latina Sven Harald Antonsson, Marcondes se colocou à disposição da companhia para ajudá-la…
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